Por Larissa Lago
Escorregamentos de solo e rocha de encostas são eventos recorrentes em muitos municípios do estado do Rio de Janeiro. Em 2011, a região serrana do estado vivenciou o maior desastre natural já ocorrido no país, que deixou centenas de mortos e milhares de desalojados.
Atualmente, não são todos os municípios do estado que podem contar com um(a) geólogo(a) de risco em sua equipe de defesa civil. Para cobrir essa falta, o Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ) disponibiliza seus profissionais do NADE (Núcleo de Análise e Diagnóstico de Escorregamentos) para prestar apoio técnico às cidades.
O que chamou a atenção da ABMGeo foi a proporção de gêneros na equipe de risco, ou seja, a quantidade de mulheres que atuam na área em relação à quantidade de homens. No NADE-DRM-RJ, atuam 6 profissionais formados em geologia, sendo todas mulheres. Por isso, a ABMGeo foi até o DRM-RJ para conhecer de perto o trabalho das geólogas que estão à frente do risco geológico no estado do Rio de Janeiro.
A coordenadora do NADE-DRM-RJ, Joana Ramalho, e a diretora do DRM-RJ, Aline Freitas, esclarecem que ao longo do ano as geólogas realizam diversas atividades para reduzir o risco no estado. Entre outras atividades, se destacam as de dar subsídio técnico aos municípios do estado, responder às solicitações do Ministério Público, dar treinamento para as defesas civis municipais e realizar ações de educação ambiental em escolas para adultos e crianças.
Entre dezembro e abril entra em vigência o plano de contingência devido ao período de chuvas. Durante esses meses as ações do NADE-DRM-RJ são mais voltadas para os atendimentos emergenciais. As equipes ficam de sobreaviso durante os finais de semana e acompanham continuamente os índices pluviométricos para analisar se a situação está caminhando para um cenário crítico.
Vistoria técnica no município de Nova Friburgo. Fonte: www.drm.rj.gov.br.
A diretora Aline Freitas explica que após um escorregamento ainda há um risco remanescente, que precisa ser avaliado pela equipe. Por isso, em uma situação emergencial as profissionais vão até o local para dar apoio técnico com relação ao processo geológico, salvo situações como impossibilidade de acesso ou falta de tempo hábil para deslocamento da equipe. As geólogas fazem a delimitação da área que ainda está em risco, auxiliam na segurança da equipe de resgate, recomendam medidas emergenciais a serem tomadas e atendem as demais solicitações da defesa civil.
A relevância deste trabalho é tão grande que Aline traz como exemplo o caso do escorregamento do Morro do Bumba, em Niterói, quando a mini-base dos bombeiros estava posicionada em situação de risco. Assim que foi avaliada a situação, o DRM-RJ avisou que o local estava em perigo e a base foi retirada. Poucas horas depois ocorreu um escorregamento que teria soterrado a mini-base.
As geólogas ressaltam que toda essa relevância traz consigo uma grande pressão psicológica para as profissionais. Segundo elas, é comum o Estado oferecer apoio psicológico para os afetados pelo acidente geológico, mas não é comum dar apoio para quem está trabalhando na situação de emergência, que também precisa de cuidados.
DRM participando do Projeto “Escolas Seguras – Desenvolvendo a Resiliência através da Educação”. Fonte: www.drm.rj.gov.br
As dificuldades que as geólogas de risco enfrentam são diversas. Uma delas é a de sempre ter que ressaltar a importância do Núcleo, tanto internamente quanto externamente ao DRM-RJ, como se essa importância não se fizesse óbvia. Outra grande questão se coloca porque essas geólogas são as únicas mulheres em ambientes predominantemente masculinos e militarizados. Elas relatam que muitas vezes há desconfiança na competência do trabalho. A equipe também relembra algumas situações difíceis que enfrentou ao longo desses anos, desde a implementação do núcleo no DRM-RJ em 2009, que vão desde a falta de gasolina para os carros até meses sem receber salário.
Camila Baptista, também geóloga do NADE-DRM-RJ, gostaria que o trabalho realizado pela equipe de risco geológico fosse mais valorizado devido a sua grande importância social. Ela também relata que muito mais poderia ser feito caso o núcleo tivesse um maior investimento, pois o trabalho poderia ser mais focado na questão da prevenção e, assim, contribuir com muito mais.
A geóloga Beatriz Forny relata que o trabalho com risco exige muita entrega. “É um trabalho que precisa ser feito com o coração. Por vezes, após um atendimento, você ainda relembra até em casa a situação dolorosa presenciada. Não é um trabalho que você faz e depois vai tranquilo para casa. É um trabalho pesado, por isso o ideal é que seja feito com amor.”, diz.
Procure saber mais sobre a atuação tão potente das geólogas do NADE-DRM-RJ na prevenção de risco geológico e atendimento a emergências: http://www.drm.rj.gov.br/index.php/risco-geologico.html
Este texto é de autoria de:
Larissa Lago
Larissa é graduada em geologia e atualmente é doutoranda em geotecnia na engenharia civil da PUC-Rio, onde trabalha com mecânica das rochas e geologia de engenharia. Autou na ABMGeo nacional como diretora de núcleos e fundou junto com outras geocientistas pretas o Grupo Yangì de Geocientistas Pretos. É associada da ABMGeo.
Comments