A ABMGeo (Associação Brasileira de mulheres nas Geociências) e GeoMamas (Rede de Mães nas Geociências) vêm a público expressar seu profundo repúdio aos atos terroristas contra os três poderes da República Federativa do Brasil, perpetrados no dia 08 de janeiro de 2023 por golpistas inconformados com o resultado das recentes eleições presidenciais.
Nos últimos dois dias, acompanhamos atentamente os desdobramentos dos atos de vandalismo que mancharam e quebraram não apenas o patrimônio nacional concentrado na Praça dos Três Poderes em Brasília, mas também parte de nossa identidade e da história recente de nossa tão jovem e sofrida democracia. Nos solidarizamos não apenas pelos danos a materiais que, embora importantes, são majoritariamente inacessíveis à população; contudo principalmente pelo sequestro da mobilização popular e de símbolos nacionais em nome de causas que, em verdade, só trazem prejuízo ao povo brasileiro.
Repudiamos, ainda, os que ousam comparar tais atos às manifestações constitucionais tantas vezes utilizadas por movimentos de orientação política diversa; o que em si é uma contradição, posto que a invasão promovida no último domingo - cópia do evento golpista ocorrido no Capitólio estadunidense em 06 de janeiro de 2021 - teve como principal objetivo a destruição do Estado Democrático de Direito brasileiro. Ademais, em comparação às diversas manifestações democráticas já realizadas em nosso país, ressaltamos o comportamento das forças de inteligência, contenção e repressão agora utilizadas pelos poderes locais desde o início da revolta pseudo-patriota: pouca ou nenhuma ação.
Ao se considerar a truculência, geralmente reservada para protestos por causas sociais ou trabalhistas, muito nos interessa que a interlocução entre manifestantes e Estado não se dê por meio da violência policial, seja qual for a natureza da questão. Entretanto, tudo sugere que este evento não trata da execução falha de um plano de abordagem pacífica, e sim de omissão arquitetada para chantagear o governo que se inicia.
As evidências de negligência e incentivo à violência política por parte de algumas entidades, autoridades, celebridades e influenciadores são fartas. Normalizou-se, desde o pleito de 2014, o questionamento do resultado soberano das urnas; não por acaso em momento de franca expansão de representatividade e diversidade em variados setores do poder nacional; não por acaso em afronta ao mandato da primeira presidenta do país.
Ao longo desses anos o fascismo se aproveitou do ressentimento causado pela crescente desigualdade social, moldando para o retrocesso a vontade genuína de alguns setores da sociedade por mudanças na ética política e pelo questionamento da extrema elitização de nossas estruturas de poder. Com a violência insuflada por radicais reacionários, financiamento garantido por uma gama empresarial covarde e gananciosa e a promessa de impunidade pela leniência de políticos golpistas, materializou-se neste 08 de janeiro a sanha de destruição dos parcos direitos de cidadania duramente conquistados pela população brasileira desde o fim da ditadura militar.
Apesar dos estragos, nossa nação se ergue mais forte sobre os escombros do fracasso golpista, e, como há muito não víamos, trabalham unidas as instituições nacionais em defesa da Democracia e do Estado de Direito. Vergonha e desonra é o que sobra aos golpistas de longa data ou primeira viagem. A História não perdoa!
Com o futuro à frente, como um coletivo de mulheres que luta por equidade para além do gênero e das Geociências, dizemos basta ao pânico moral e às teorias conspiratórias e anti científicas que têm pautado a política brasileira. Nos negamos a continuar discutindo cortinas de fumaça enquanto questões sérias aguardam a tomada de ação do povo brasileiro e seus representantes!
Como brasileiras, queremos novamente a erradicação da fome; a ampliação de direitos individuais e coletivos; o combate às violências; a reflexão, planejamento e ação no contexto das mudanças climáticas; preservação e incentivo à diversidade étnico-cultural que caracteriza nosso povo, com ênfase à valorização das culturas indígenas e africanas, especialmente atacadas pela última gestão presidencial; e acima de tudo queremos as garantias constitucionais que regem nossa nação.
Às associadas que por ventura apoiam este movimento fascista, pedimos encarecidamente: desembarquem desta furada! Reflitam! Não há diálogo por equidade de gênero ou de qualquer natureza num contexto ditatorial. É o Estado de Direito que nos garante a manifestação democrática e o direito à plena cidadania. Não nos deixaremos enganar! Continuaremos lutando por um Brasil e um mundo mai equânime, sem descuidar das interseccionalidades que nos atravessam ao longo dessa trajetória.
Seguimos juntas, fortes e diversas.
Vida longa à democracia brasileira!
Chapa (Geo)Diversas
Gestão 2021-2023
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