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Foto do escritordiretoria ABMGeo

Monica Heilbron: a mais recente geóloga da Academia Brasileira de Ciências

Atualizado: 4 de set. de 2023

Por Larissa Lago



A ABMGeo tem uma enorme satisfação em apresentar para todo o Brasil a Pesquisadora Monica Heilbron, a mais nova geóloga da Academia Brasileira de Ciências.


Monica foi estudante de geologia nos anos 70, formada em 1980 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), emendou a graduação direto no mestrado na própria UFRJ, e fez doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Após o doutorado, a pesquisadora fez alguns pós-docs, sendo o primeiro no Canadá na cidade de Montreal, depois na Alemanha, na Austrália e, recentemente, na Áustria, na Universidade de Salzburg. Recebeu diversos prêmios acadêmicos e integra, desde 1983, o corpo docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).


Foto: Larissa Lago.


O tema de pesquisa da Monica ao longo de sua carreira acadêmica e seu grande objeto de inspiração na geologia é a área de geologia regional, geoquímica, petrologia e como essas disciplinas se unem para formar o conhecimento de uma geotectônica mais global.

Ao ser questionada sobre a inspiração para seguir a carreira acadêmica, a pesquisadora conta que no início da graduação em geologia ela não gostava tanto do curso devido ao ciclo básico, que era muito difícil e pré-requisito para todas as matérias de geologia. Mas assim que acabou o ciclo básico, Monica começou a fazer iniciação científica e a dar monitoria em mineralogia. Sua primeira iniciação científica foi orientada pelo Professor Rudolph A J Trouw , na área de Búzios e Cabo Frio. Esse mesmo estudo foi evoluindo para o Sul de Minas, onde fez seu mestrado e produziu o primeiro mapa metamórfico da área de Carrancas. Ela conta ainda que o grupo de pesquisadores em geologia atuante na UFRJ na época operava muito bem e isso foi uma das suas inspirações para seguir a carreira acadêmica.


Outra inspiração para a escolha de sua carreira foi uma palestra do Professor Fernando Flávio Marques de Almeida falando sobre geotectônica na Semana de Geologia da UFRRJ. Conta que nos anos 70 poucas pessoas no Brasil falavam de tectônica de placas e brinca narrando que, enquanto assistia, ela pensou: “Gente, eu quero fazer isso quando eu crescer (risos)”. Foi o que aconteceu, e uma das coisas mais gratificantes que ela fez depois foi ter escrito um capítulo do livro lançado em 2004 em homenagem ao Professor. Neste ponto ela ressalta a importância dos professores para a inspiração dos alunos de graduação que queiram ser pesquisadores também.


Atualmente, Monica é professora titular da UERJ, onde entrou em 1983 para dar aula de petrologia metamórfica. Quando foi efetivada, Monica lembra que o curso de graduação na universidade estava começando, então ela foi uma das responsáveis pela montagem do acervo de rochas e minerais da instituição. As disciplinas que a pesquisadora atualmente leciona na graduação são trabalhos de campo e geologia geral, que conta gostar muito de ministrar pois é o primeiro contato dos estudantes com geologia, então é o momento de incentivá-los na faculdade.


Monica descreve que em 76, quando ela entrou na UFRJ, era tudo um pouco mais difícil, tanto organizacionalmente quanto em relação à captação de recursos para equipamentos e pesquisas. Lembra também que nessa época haviam poucas pessoas tituladas doutoras no Brasil. Em contrapartida, durante seu curso profissionalizante, vários professores da UFRJ estavam voltando dos seus doutorados no exterior (eles tiveram que sair do país já que não havia doutoramento no Brasil) e chegavam cheios de ânimo e competência para solicitar recursos de grande porte e montar laboratórios de qualidade, o que permitiu o avanço do desenvolvimento das pesquisas em geologia.


Outra época excelente para a pesquisa brasileira, segundo Monica, foi o final dos anos 90 e os anos 2000. Ela brinca que “Não queria politizar não, mas já politizando”, os governos anteriores apostaram nas universidades públicas brasileiras e nas agências de fomento, que passaram a ter recursos. As empresas de petróleo, principalmente a Petrobrás, estavam no seu auge e os investimentos das redes tecnológicas da Petrobrás permitiram que a UERJ e outras universidades brasileiras se desenvolvessem de uma maneira impensável. Ela fala que foi um período muito gratificante de crescimento e também de titulação, pois os programas de pós-graduação se multiplicaram no país, fazendo com que o corpo docente das universidades hoje seja praticamente todo de doutores.


Monica em um trabalho de campo na Praia das Focas, Búzios (RJ). Foto: Ana Caroline Dutra.

Ela lembra que quando atuou como pró-reitora da UERJ, as universidades e as pesquisas desenvolvidas no Brasil eram internacionalmente reconhecidas e requisitadas. E conta que também foi muito gratificante ser pró-reitora na época do programa Ciências sem Fronteiras, que possibilitou para tantos estudantes a oportunidade de fazer intercâmbio com instituições internacionais.


Já nos últimos 3 anos, o país entrou em uma crise política e econômica com a qual as universidades estão sendo muito prejudicadas. Monica conta, preocupada, que para o desenvolvimento de pesquisas são necessários equipamentos de alta qualidade e, se por um lado os equipamentos estão disponíveis nas universidades, por outro necessitam de recursos para manutenção e não podem ficar parados. Enquanto hoje o Brasil vai para o exterior para trocar conhecimento de igual para igual, a falta de investimento em pesquisa pode fazer essa realidade mudar e o Brasil voltar a ficar subordinado academicamente a outros países.


Ao ser questionada sobre a realidade da mulher nos anos 70 em comparação com os dias de hoje, Monica diz que mulheres na geologia eram muito poucas e que geralmente seguiam áreas mais laboratoriais como mineralogia e paleontologia. Não iam muito para as áreas de campo devido às dificuldades de ser mulher nestes ambientes. Segundo a pesquisadora, naquela época era comum o preconceito de que as mulheres não podiam ocupar alguns cargos, como chefiar uma mina ou um poço de petróleo, por exemplo. Aos poucos as mulheres foram modificando essa realidade e hoje em dia essa situação está melhor. Mas a mulher nas geociências continua enfrentando muitos desafios, entre eles ter espaço em cargos de gestão e ocupar vagas como pesquisadoras em agências e nos órgãos. Há menos mulheres como bolsistas CNPQ e isso não é condizente com a quantidade de mulheres que estão pesquisando, competentes, e com titulação. Um exemplo disso é a própria Academia Brasileira de Ciências que agora apresenta um maior reconhecimento das mulheres cientistas do país. Monica ressalta que como mulher ela quer ter cargo de liderança, receber a mesma remuneração dada a homens em cargos de liderança e quer também ter seus direitos assegurados, como o de ser mãe, por exemplo, sem ser prejudicada.


A acadêmica lembra que teve dois filhos em uma diferença de tempo muito pequena enquanto estava no auge de orientações de mapeamento geológico para estudantes de graduação. Para isso ela teve muita ajuda, do marido, de mulheres muito fortes que a ajudaram, por vezes até mesmo dos alunos. E ao mesmo tempo que ela não queria ficar longe dos filhos, ela também não podia faltar nas orientações de campo, então ela os levava junto. Conta que para as crianças era a maior curtição, tomavam banho de rio, andavam a cavalo. A noite ela chegava do campo e amamentava o filho menor. Essa é uma preocupação que os homens de uma maneira geral não tem. 10 anos depois, teve seu terceiro filho, uma menina, enquanto produzia sua tese de livre docência para o concurso de professor titular, foi uma verdadeira produçao em família Então hoje Mônica acha que é preciso implementar medidas para romper com essa estrutura, para que a mulher possa ter uma carreira e construir uma família, porque uma coisa não pode excluir a outra.

A última pergunta que a ABMGeo fez para Monica foi quais os lugares mais deslumbrantes geologicamente que ela teve a oportunidade de conhecer.


Mônica diz que essa é a pergunta mais difícil e ri. Conta que no Brasil tem muitos lugares belíssimos, um deles o Alto da Serra da Mantiqueira, que é deslumbrante. Que a região de Cabo Frio e Búzios e também a região da Bacia do Parnaíba são lugares muito lindos.

No exterior, um dos lugares mais deslumbrantes que Monica conheceu foi a Antártida. Ela descreveu como uma beleza selvagem intocada que deslumbra. Outros locais que também merecem entrar no pódio são as Rochosas Canadenses e os Alpes, tanto os suíços quanto os austríacos têm uma beleza natural impactante.


Monica em um trabalho de campo na Antártida.


Nossos sinceros agradecimentos à Professora Monica Heilbron, pela entrevista e por nos permitir inspirar outras mulheres a partir da sua história de vida.



Este texto é de autoria de:


Larissa Lago

Larissa é graduada em geologia e atualmente é doutoranda em geotecnia na engenharia civil da PUC-Rio, onde trabalha com mecânica das rochas e geologia de engenharia. Autou na ABMGeo nacional como diretora de núcleos e fundou junto com outras geocientistas pretas o Grupo Yangì de Geocientistas Pretos. É associada da ABMGeo.

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