Um dos grandes desafios das geocientistas (e de áreas afins) é conciliar as rotineiras atividades de campo com a maternidade. Dando sequência à temática “Atividades de campo com crianças” entrevistamos algumas geocientistas mães que fizeram trabalho de campo com as crias à tiracolo, para conhecermos um pouco mais dessa realidade!
Primeiramente, como você prefere ser mencionada?
Paula Regina de Oliveira Cordeiro
Qual a sua profissão? Onde se formou?
Sou Geógrafa, me formei na UFBA, lá também fiz uma especialização em Arquitetura e Urbanismo, mestrado e agora estou fazendo o doutorado.
Qual sua área de pesquisa?
Atualmente eu pesquiso a Cosmopercepção banto de natureza, mas já pesquisei sobre comunidades pesqueiras e quilombolas. Tudo isso, sempre envolvendo a Cartografia, que é a minha grande paixão.
Você poderia falar brevemente sobre sua experiência profissional? Qual a sua ocupação no momento?
Atualmente eu sou Professora Universitária, doutoranda e tenho uma empresa de Cartografia (@ayocartografias). Além de ser professora, eu presto consultorias nas áreas de Cartografia e Metodologias participativas.
Quando foi que você se tornou mãe? Desde que se tornou mãe, qual é a sua principal dificuldade?
Me tornei mãe em maio de 2021.
A principal dificuldade foi mudar o ritmo de trabalho e de compromissos. Até os 4 meses, eu fiquei de licença, agora minha filha tem 8 meses e ainda continuo dizendo alguns “nãos” pra passar mais tempo em família.
Você possui rede de apoio? Qual?
Nós moramos distantes da família. Então, nossa rede de apoio reduz bastante, somos eu e meu esposo. Mas quando voltamos para a cidade das nossas famílias, as avós e o avô nos ajudam muito. Para conseguirmos trabalhar, nós contamos com o apoio de uma kindezi, uma baba.
Como ficou a sua rotina de atividade profissional após a maternidade?
Nossa, uma loucura no início, com todos os saltos de desenvolvimento. Agora eu aprendi que trabalho e todo mundo sabe que tenho uma filha e que às vezes no meio das reuniões eu vou precisar sair para amamentar. Até agora, todas as pessoas com quem eu trabalhei foram bastante compreensivas.
Consegue elencar quais foram/são as maiores dificuldades enfrentadas nessa conciliação?
Falta de sono, perca de prazos, vontade de ficar grudada na cria, atraso nos prazos porque as pessoas às vezes não entendem que não estamos disponíveis sempre, quando o trabalho envolve equipe isso se torna mais delicado. Essas foram as 4 principais, mas obviamente tem outras.
Como eu trabalho em campo, levei minha bebe aos 4 meses comigo para uma viagem. Fomos eu e meu esposo. Nossa… lembro como estávamos inseguros, mas aos poucos fomos ajustando e hoje com 8 meses, nós ainda estamos nesse trabalho com ela.
Se você já passou por isso, consegue dar alguma dica para mães que estejam passando por situações adversas nesse processo de conciliar trabalho e maternidade?
Respira, pede ajuda, deixa seu tempo bem dito, conversa com as pessoas do seu trabalho e se organiza. Se você não tem rede de apoio e trabalha em casa, ter uma baba pode ser uma ótima. Até para a sua criança não estranhar muito as pessoas.
Como foi realizar as atividades de campo com seu bebê? Relate para nós.
Nossa, no início eu estava muito insegura, porque eu moro na Ilha de Itaparica e o trabalho era em outra Ilha. Para chegar nós pegávamos ferryboat, carro e lancha. Logo de cara eu pedi ajuda ao GeoMamas para saber se já tinha havido algum caso deuma mãe que aos 4 meses fez campo. A resposta foi bem legal e eu pude pensar em como solucionar algumas questões.
Mas quando chegamos em campo tudo acontece: não tem ventilador, tem conversas pós-trabalho, mas conseguimos, com diálogo e tranquilidade contornar essas questões. No dia das oficinas, contratamos uma baba para ficar com ela e no início eu não parava de olhar pra minha filha. No final deu certo e ela é caçula da equipe, mas é um grande desafio e precisamos de todas as organizações, planos a, b, c d… possíveis.
Com quanto tempo seu bebê estava na época do trabalho de campo?
4 meses
Você sentiu medo? Sim ou não, e porquê?
Sim, achei que ela não ficaria confortável, que poderia adoecer (principalmente no contexto de pandemia), que não se adaptaria, que seria extremamente cansativo, que as pessoas poderiam não entender a nossa dinâmica, já que eu era a única mãe da equipe.
Teve apoio? Se sim, com quem contou?
Sim, a própria equipe nos ajudou bastante. São pessoas maravilhosas. Nos ajudavam a tomar café, com o silêncio, com as improvisações, com as saídas para amamentar. Além da equipe, tivemos uma baba que ficava com ela nos momentos específicos das oficinas.
Restringiu as suas atividades? Quais?
Sim, a interação pós campo e pós oficina ficaram restritas por conta do horário do sono dela. Então, muitas conversas, planejamentos, a gente se revezava para cumprir. Entre nós, precisamos desenvolver a colaboração familiar no trabalho.
Demorou mais tempo que o comum para cumprir alguma tarefa? Qual/quais?
O pós-campo necessitava de relatorias, planos. Íamos fazendo um pouco a cada dia para não perdermos o prazo. Mas muitas vezes ficamos sem a baba, o que acarretou no atraso da entrega do prazo.
E, isso acaba sendo chato com o empregador, ne? Poucas são as pessoas que entendem de fato a realidade da maternidade.
Se arrependeu de algo? Se sim, o que foi?
De não levar o ventilador no primeiro campo. Mamas, levem sempre o ventilador rs.
Algo mais a nos contar?
Essa experiência tem sido bastante desafiadora, mas também me aproximou muito mais da minha filha e ajudou no contato dela com outras pessoas.
Eu espero que os empregadores consigam entender mais a realidade da maternidade. E nós, que somos mães e pais, precisamos também conversar tudo no início do trabalho, para que as coisas fiquem bastante ditas. Essa é a principal dica para melhorar as relações e facilitar o nosso trabalho.
Você indicaria a realização de atividades de campo com a presença de bebês e crianças para outras mães? Se sim, quais recomendações você pode dar para mães que precisam realizar atividades de campo com bebês e/ou crianças?
Indico.
Se possível vá com o pai, ou com alguma pessoa próxima e tente fazer contato com uma cuidadora no local.
Recentemente, a GeoMamas formulou um Guia de Acolhimento para a inclusão de bebês e crianças em eventos geocientíficos, você ficou sabendo sobre este documento? O que acha dele?
Eu achei muito interessante. As informações ficaram bem precisas, parabéns!!!
Ah, vamos elaborar um para mamas em campo??
Paula Regina de Oliveira Cordeiro
Apaixonada por cartografia, Paula Cordeiro é geógrafa, formada na UFBA, mestre e especialista em Arquitetura e Urbanismo. Atualmente é professora universitária, doutoranda e empresária (@ayocartografias); além de consultora nas áreas de cartografia e metodologias participativas. Se tornou mãe em maio de 2021.
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